No Shopping Pátio Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, ao som de Vogue, de Madonna, à meia-noite, celebridades como os apresentadores Marcos Mion, do programa Legendários, e Astrid Fontenelle puxaram uma contagem regressiva de dez segundos junto a uma fila de pouco mais de 20 pessoas.
Cada um levou de presente um iPad de 16 gigabytes com conexão à internet por 3G, que no preço de tabela custa R$ 2.049.
O champanhe, a música eletrônica e as participações de famosos se repetiram nas lojas abertas no Shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo, e no Barra Shopping no Rio.
Ao contrário do lançamento do iPhone 4, em setembro, que foi concentrado em duas lojas em São Paulo, desta vez, como muitas lojas em todo o país venderam o aparelho, não houve grandes filas. No Higienópolis, dos 190 aparelhos que havia no estoque, apenas 26 foram vendidos nesta madrugada. Muita gente madrugou, mesmo, para testar o novo objeto de desejo feito pela Apple.
O primeiro a chegar, às dez da noite, foi o desenvolvedor de aplicativos para iPhone e iPad, Aloísio Mello, de 26 anos, que comprou um iPad Wi-Fi de 16 gigabytes. Mello contou que o principal uso será a criação de aplicativos, como o recém-lançado Vocal Tweet, que envia mensagens de voz de nove ou 18 segundos pelo microblog.
Ansiedade
Mello disse que não conseguiria esperar pela próxima (e aguardada) versão porque ainda vai demorar muito a chegar ao Brasil, depois que for lançada nos Estados Unidos – esse primeiro modelo de iPad levou oito meses até o lançamento no Brasil. Além de usar o aparelho para o trabalho, o programador, que já tem um iPhone 4, um MacBook Pro e um MacMini, pretende usar seu iPad para substituir o notebook em dos locais mais confortáveis da casa.
- Vou usá-lo para ver vídeos e filmes que baixo no MacBook na cama, me comunicar pelo Twitter e pelo MSN, ler livros e, claro, navegar, que é um dos pontos fortes do aparelho. Vou levá-lo em viagens e usá-lo para lazer.
Mello acrescenta que outra vantagem do aparelho é a bateria do tablet, que “dura até dez horas” enquanto no notebook a autonomia é de "sete horas, chorando”.
O medo de os estoques se esgotarem também fez com que consumidores saíssem de casa e enfrentassem a chuva, que caiu na noite desta quinta-feira em São Paulo, para comprar o aparelho.
A advogada Keli Yamada, de 33 anos, diz que resolveu ir à noite comprar o aparelho por medo de que o produto faltasse em estoque.
- Fiquei cismada com as vendas. O iPhone sumiu das lojas depois do lançamento. Então resolvi vir hoje mesmo, já queria experimentar e será útil para o meu trabalho.
Uso exclusivo
Feliz com o presente que ganhou, Marcos Mion, que já tem um, disse que finalmente vai poder usar o seu sozinho. Como tem família grande, sempre algum parente acaba usando mais do que ele. Mion conta que acha o aparelho “uma delícia”.
- É ótimo para crianças, é muito educativo. É bom para viajar, é minha fonte de informação, de pesquisa. Como sou consumidor voraz de filmes e de músicas no iTunes, vai facilitar minha vida: vou baixar direto para ele em vez de baixar no laptop. Além de visitar as lojas de marcas de que gosto, que já oferecem catálogos multimídia.
Já para sua colega Astrid Fontenelle, que se diz fã da Apple desde os tempos em que trabalhava na MTV e também já tem um, o iPad é muito usado para leitura de publicações que não têm apenas texto, mas também fotos músicas e vídeos. Como o livro multimídia Alice no País das Maravilhas, que seu filho de dois anos “adora”. Apesar de não se considerar “tecnológica”, Astrid conta que usa o aparelho para várias coisas.
- Levo para o trabalho, uso para tuitar, ler e enviar e-mails... Sou fã da Apple.
Quem não estava nem aí para a fila era um casal sentado no banco, esperando sua vez de entrar. Amanda Seabra, sentada ao lado do namorado, Rodrigo Saadia (químico que comprou o aparelho há um mês nos Estados Unidos e folheava uma revista nacional em seu iPad) contou que preferiu esperar o aparelho chegar ao país para não passar pelo mesmo vexame que o amado.
- Ele quis economizar e foi pego pela Receita [Federal] quando desembarcou. Acabou tendo que pagar 75% mais de impostos pelo seu iPad de 16 gigabytes 3G, que no fim, saiu por R$ 2.000. Preferi esperar e dividir no cartão [em até dez vezes].
Amanda diz que a única ansiedade que tem é por notícias e por “não ter de ligar mais o computador à noite”. Ela quer ver vídeos e usar aplicativos como o Twitter e “joguinhos”. Até resolver pegar a fila e experimentar o aparelho , ela não sabia se ia de 16 gigabytes 3G ou de 32 gigabytes 3G.
Pai, me dá um iPad
Por incrível que pareça, o quarto da fila disse que foi lá para testar, não necessariamente para comprar. Acompanhado do pai, o estudante Lucas Gamboni, de 14 anos, entrou na fila para experimentar. Como usa mais o sistema operacional Windows, queria conferir de perto o poder do tablet mais falado do momento.
- Tenho notebook e estou mais familiarizado com o mundo dos PCs, mas o iPad é meio que uma revolução tecnológica, tem teclado embutido...
Mais ou menos uma hora depois, Gamboni era só elogios para o aparelho. Pode não ter comprado, mas os olhos mostravam que, agora, tudo vai ser uma questão de negociação com quem vai pagar pela compra.
- É ótimo. Só não sei se vou pedir de presente de Natal ou de aniversário [em abril]. Vai depender do meu pai.
Já Hélio Cunha, estudante de medicina, 23 anos, segundo colocado na fila, sabia muito bem o que queria. Apesar de dizer que não é fanático (early adopter, em inglês), daqueles que compram qualquer coisa assim que é lançada, Cunha não conseguiria deixar para o dia seguinte.
– Quero pegar já porque demorou muito para sair aqui.
Dono de um MacBook Classic e de um iPhone 3GS, Cunha disse que ia levar um de 32 gigabytes Wi-Fi. Morador de uma república, o estudante vai substituir o notebook pelo iPad em tudo: para levar para a aula, para ler documentos do Office, ver apresentações e vídeos no YouTube. Ele tem tanta pressa em tirar o maior proveito do aparelho que diz que uma das primeiras coisas que vai fazer é:
- Instalar o JailBreak [programa que permite rodar aplicativos que não são feitos pela Apple]. Vou usar para tudo, para estudo, para lazer. A luz [de fundo] não me incomoda, já leio no iPhone, já me acostumei.
O iPad poderá ser comprado pelo site da Apple e em revendas. Por enquanto, as vendas ainda não deverão ocorrer por meio das operadoras de celular, como acontece com o iPhone, apenas por lojas e sites autorizados.
O modelo mais barato é o de 16 gigabytes de memória com conexão à internet apenas por Wi-Fi, que vai custar R$ 1.649. A versão só com Wi-Fi de 32 gigabytes vai sair por R$ 1.899 e a de 64 gigabytes, por R$ 2.199. Os modelos com conexão por Wi-Fi e 3G custam no mínimo R$ 2.049, para a versão com 16 gigabytes. Há também opções de 32 gigabytes (R$ 2.299) e de 64 gigabytes (R$ 2.599).